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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Ana e a Felicidade

Ana fizera trinta anos este ano e desde os vinte vivia sozinha, por escolha, saiu do interior onde morava com os pais para viver na capital em busca de estudos melhores, trabalho e, principalmente, Liberdade. Foi bem sucedida em todas as suas buscas, aos vinte e quatro anos formou-se em publicidade e já trabalhava em uma grande empresa.

Sempre foi livre também, gostava de caminhar sozinha e olhar para o céu azul, era quando sentia uma imensa Liberdade, mas, Felicidade nunca sentiu. Não se podia dizer que era uma pessoa triste, Ana buscava a Felicidade e a encontrava em alguns momentos: quando recebia uma promoção no trabalho; quando saia para curtir com os colegas; quando assistia a um bom filme no cinema; quando beijava algum namoradinho dos muitos que teve.

Mas, nada disso a completava, ela precisava de mais, de algo maior, de uma Felicidade duradoura, constante, companheira. Ainda mais agora, agora que atingira de fato a maturidade, agora que era uma mulher bem-sucedida, inteligente, independente, só faltava-lhe ser feliz. Porém, Ana não sabia o que fazer para isso, não sabia o que faltava-lhe, o que buscar. Pensou em ter um filho já que tanto falam na Felicidade das mães, não seria difícil arranjar um pai, já que era bonita e estava inteira apesar dos trinta e, ainda por cima, tinha dinheiro. Desistiu de imediato, nunca teve vocação para mãe, não tinha a menor paciência com crianças. Deveria haver outra coisa.

Era noite de 31 de dezembro, mais um reveillon, mais um que passaria sozinha em sua linda casa. Ela e a sua garrafa de champagne. Não estava triste por isso, ela só não entendia o porquê de fazer tudo diferente em uma noite para no dia seguinte continuara tudo exatamente igual.  Mesmo assim fazia, porque gostava de rituais.

Preparou um jantar com as comidas que mais gostava, lentilha, tinha que ter lentilha para dar sorte, arrumou a fruteira com muitas uvas verdes, vestiu roupa nova, um lindo vestido branco, gostava da cor branca, separou a taça de champagne, colocou uma música suave e ficou refletindo sobre sua vida esperando chegar as doze badaladas.

Meia-noite em ponto estourou a champagne, encheu sua taça e bebeu de uma só vez, quando teve a idéia de acender todas as luzes da casa e abrir portas e janelas para a Felicidade entrar. E assim que Ana terminara de abrir a ultima porta que era a da sala, ela entrou suave e constante. E foi preenchendo toda a casa.

Ana encheu mais uma vez sua taça e agora bebendo calmamente, voltou para frente da porta e ficou ali sentindo a tal Felicidade. Pela primeira vez na vida estava sentindo a Felicidade como tinha que ser, completa, inteira, ali só dela, só Ana e a Felicidade, deitaram-se no chão e ficaram ali vivendo aquele momento, Ana e a Felicidade.

No dia primeiro um passante estranhou aquela casa toda aberta e com as luzes acesas o que não era comum nesses tempos de violência e foi ver se algo estava acontecendo. Ao chegar a porta viu aquela mulher bonita, ainda jovem, caída ao chão com um vestido branco que a fazia parecer iluminada, a taça ao seu lado quebrada. Chamou pela moça, mas preferiu não tocá-la apesar da vontade, poderia ter havido um crime e ele se comprometer.

Percorreu toda a casa, mas encontrou tudo no lugar, roubo não havia sido. Voltou até Ana, tentou escutar seu coração e nada. Respiração, nada. Estava morta. Morrera como desejou: Ela e a Felicidade.

07/01/2009

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